Diamantina:Violência de gênero é debatida em audiência
Denúncias na região do Jequitinhonha motivou
audiência pública realiza pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)
Foto: Luiz Santana |
Essa foi uma das conclusões dos participantes da audiência
pública sobre o assunto, realizada pela Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (9/7/18).
A reunião foi realizada em Diamantina (Alto Jequitinhonha)) e motivada pelo aumento das denúncias desse tipo de violência na região.
A reunião foi realizada em Diamantina (Alto Jequitinhonha)) e motivada pelo aumento das denúncias desse tipo de violência na região.
Crimes de ameaças
Foram 198 registros de
crimes como ameaças e lesão corporal contra mulheres nos primeiros seis meses
do ano em Diamantina, Datas e Felício dos Santos, todos municípios da Região
Central. Os dados foram apresentados pelo subcomandante do 3º Batalhão da
Polícia Militar, Major Glauber Santos Barroso, que lembrou que os dados
incluem dois
casos de homicídio e dois de estupro.
“As ocorrências têm aumentado e isso nos preocupa”, disse. Ele
ainda completou que os policiais estão recebendo treinamentos especiais para
atender as vítimas nesses casos.
Nesses quatro fatos mais graves, bem como em outras das
quase 200 ocorrências registradas, os agressores já foram localizados, como
ressaltou a delegada civil Kiria Silva Orlandi, da delegacia especializada de
atendimento à mulher em Diamantina. Mas, segundo ela, isso não é suficiente.
“O aspecto punitivo é importante, mas sozinho não resolve o
problema. Não dá para tirar o agressor do lar, colocar no ambiente prisional e
dizer que o problema dela está resolvido”, explicou, ressaltando o quadro comum
de dependência
financeira e emocional das vítimas.
Relação com o agressor dificulta prevenção
Delegada Kiria Orlandi Foto: Luiz Santana |
O fato de a maior parte dos casos de violência
contra a mulher ter como autor companheiros ou outros familiares é, para a
delegada e para os demais presentes, o maior dificultador para ações de
prevenção.
“Já fui perguntada sobre o porquê de uma delegacia
para mulheres se a maior parte das mortes violentas são de homens jovens. Sim,
é verdade, mas os homens morrem por múltiplas causas, de trânsito a
envolvimento com a criminalidade. As mulheres, em 90% dos casos, morrem por um
único motivo: a cultura machista que as coloca como propriedade de um homem”,
afirmou.
Assim, Kiria Orlandi defende, entre outras coisas,
que seja cumprida a Lei Maria da Penha, que
define que o debate sobre igualdade de gênero deve fazer parte dos currículos
escolares. Para a delegada, a violência contra a mulher cresce em um
ambiente de cultura machista e só a mudança dessa cultura pode fazer
com que esse quadro melhore.
Nesse sentido, a secretária de desenvolvimento
social de Diamantina, Maria do Carmo Ferreira da Silva, anunciou que o Conselho
da Mulher acaba de ser aprovado no município. “Os conselhos precisam cumprir
efetivamente seus papeis, que são de denunciar também, mas não apenas. É
preciso que eles sejam propositivos”, disse.
Debate - A
necessidade de debater o assunto e de discutir questões de gênero nas escolas
foi considerada essencial para os presentes na prevenção de violências contra
as mulheres. A coordenadora da Rede de Mulheres do Alto Jequitinhonha, Helen
Perrela, disse que o grupo surgiu em decorrência de feminicídios recentes
registrados na região. Uma das principais ações do grupo é a criação de um
fórum permanente que percorre as cidades da região para debater essas questões.
Aplicativo – A
delegada civil Kiria Orlandi anunciou, durante a reunião, que em algumas
semanas será oficialmente lançado um aplicativo, desenvolvido em parceria com a
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, que vai facilitar
o acesso às medidas protetivas em vigência. Segundo ela, a polícia atualmente
não tem acesso ao banco de dados que indica quais são as medidas deferidas e
indeferidas, o que seria resolvido pelo aplicativo.
Tratamento de agressores não é unânime
O deputado Cristiano Silveira (PT), presidente da
comissão e autor do requerimento que deu origem à reunião, destacou a sanção
da Lei 22.256, de 2016, que criou a política
estadual de atendimento à mulher vítima de violência.
Ele também lembrou do Projeto de Lei 4.432/17, de sua autoria, que,
se aprovado, vai criar uma bolsa transitória para ajudar as mulheres que
dependem financeiramente dos seus agressores e, concomitantemente, oferecer a
elas cursos de capacitação para ajudá-las a ingressar no mercado de trabalho.
O parlamentar defendeu também o tratamento dos
agressores. Ele lembrou que no Brasil não há pena perpétua e, assim, esses
homens sairão em algum momento da prisão e é preciso pensar sobre como as
penitenciárias têm devolvido as pessoas à sociedade.
Para ele, os altos índices de reincidência criminal
demonstram que aqueles que cumprem pena acabam depois cometendo crimes ainda
mais graves.
Nesse ponto, a delegada Kiria Orlandi discordou do
parlamentar e disse que não acredita em tratamento dos agressores, porque isso
implicaria em redução de poder, no sentido de convencer esses homens que eles
não são donos dessas mulheres. “E fazer alguém abrir mão de poder não é fácil”,
disse. Para ela, os investimentos devem ser no empoderamento das mulheres e em
educar para que não se formem novos agressores.
Demandas - Ao
fim da reunião, alguns dos presentes se manifestaram para tirar dúvidas e fazer
propostas. Uma das demandas foi a de criação de uma casa de apoio na
região para receber as mulheres vítimas de violência. Também foi solicitado
um trabalho mais direto dentro das universidades da região, já que foram
citadas denúncias de assédios e violências nesses espaços. Consulte o resultado da reunião.
Fonte: ALMG
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