ELEIĂĂES 2010
Pesquisa eleitoral, mercadoria Ă venda
Candidatos eleitos antes do voto do eleitor
Ă um absurdo, todos sabem que ele ocorre, mas ninguĂ©m toma uma providĂȘncia para eliminar essa anomalia. As pesquisas eleitorais sĂł sĂŁo fiscalizadas com maior rigor pelo TRE 90 dias antes da eleição. AtĂ© esse perĂodo elas costumam ser manipuladas. Se a manipulação Ă© bem feita, os seus resultados podem ser divulgados massivamente e o instituto tem um conceito nacional, Ă© possĂvel que elas induzam o eleitorado, fazendo os indecisos assumirem o candidato que lidera a pesquisa (ou cresce sempre) e outros mudarem as opçÔes que pretendiam fazer, graças a um hĂĄbito nacional enraizado: brasileiro nĂŁo gosta de perder. Prefere entrar na onda de quem estĂĄ em ascensĂŁo e com a perspectiva de vencer. Ou melhor: jĂĄ Ă© dado como vencedor.
Ă claro que quem tem exerce o controle do executivo ou outra função pĂșblica de expressĂŁo pode encomendar mais pesquisas e explorar esse terreno baldio, propĂcio Ă s manipulaçÔes da opiniĂŁo pĂșblica. Quanto mais poder o candidato tiver, de mais recursos poderĂĄ lançar mĂŁo para promover essas pesquisas dirigidas, de forma direta ou indiretamente, atravĂ©s de entidades agregadas, dependentes ou afins. E aproveitando para combinar as pesquisas eleitorais com outros tipos de sondagens, que engrossam o faturamento dos institutos de opiniĂŁo pĂșblica, deixando-os mais suscetĂveis a esse tipo de fraude, escorada no princĂpio de que a estatĂstica Ă© o reflexo da realidade no momento em que ela Ă© aferida e que os nĂșmeros nĂŁo mentem jamais.
Manobra técnica
Essa prĂĄtica, favorĂĄvel aos detentores do poder e lesiva Ă democracia, finalmente começa a ser questionada e, talvez, dependendo da reação que as crĂticas provocarem, venha a ser abolida, em proveito da fidelidade aos fatos. A brecha para esse questionamento foi aberta pelos pequenos institutos de pesquisa, que passaram a se mobilizar para denunciar as encomendas com propĂłsitos prĂ©-definidos. O serviço sĂł beneficia os grandes institutos de pesquisas, que sĂŁo "muito bem pagos para realizarem pesquisas governamentais e outras que derivam de sindicatos comprometidos com o governo, como a realizada pelo Sensus para a CNT", diz o dono de um dos institutos nanicos.
Ele exemplifica com o Vox Populi, que faz uma pesquisa semestral para aferir a eficiĂȘncia das concessionĂĄrias de energia. O pacote envolve 30 concessionĂĄrias, cabendo a cada uma cota de mais de 80 mil reais. O serviço resulta em mais de R$ 2,5 milhĂ”es por uma pesquisa com menos de 500 entrevistas em todo Brasil. A Aneel (a agĂȘncia que controla o setor de energia elĂ©trica) exige que a pesquisa seja feito todos os semestres, mas nĂŁo que haja licitação pĂșblica para a contratação do executor da sondagem. O Vox Populi foi indicado diretamente, sem se submeter a qualquer processo seletivo.
A mesma fonte se refere Ă recente pesquisa de intenção de voto para presidente da repĂșblica, realizada pelo Instituto Sensus para a Confederação Nacional dos Transportes, que registrou um notĂĄvel crescimento da candidata do PT, a ministra Dilma Rousseff. Em pouco tempo ela jĂĄ conseguiu empatar tecnicamente com o prĂ©-candidato do PSDB, o governador de SĂŁo Paulo, JosĂ© Serra. O surpreendente resultado foi propagandeado por todo paĂs, "mas esqueceram de analisar a metodologia do trabalho, desenhada cirurgicamente para favorecer a candidata oficial", observa a fonte.
O dono do pequeno instituto diz que nĂŁo pretende fazer a desqualificação da pesquisa por razĂ”es partidĂĄrias, mas sim alertar "sobre os riscos que uma pesquisa manipulada pode trazer para as eleiçÔes que se aproximam, e ao mesmo tempo, questionar o papel do Tribunal Superior Eleitoral que faz vista grossa para esse tipo de alquimia, pois, segundo ele, a lei sĂł Ă© rĂgida com as empresas de pesquisas 90 dias antes das eleiçÔes".
Segundo a anĂĄlise do tĂ©cnico, a concepção da amostra da pesquisa do Instituto Sensus privilegiou pequenos municĂpios brasileiros em detrimento das grandes capitais, onde o voto urbano Ă© mais representativo. Por exemplo, no Rio Grande do Norte, foram pesquisados 22 eleitores, sendo 9 em Natal (a capital com cerca de 508 mil eleitores) e 13 no municĂpio de SĂtio Novo (com 4 mil eleitores). Em Santa Catarina foram ouvidas 17 pessoas, com 4 entrevistas em FlorianĂłpolis (com 306 mil eleitores) e 13 em Guaraciaba com (7,7 mil eleitores). No EspĂrito Santo, foram ouvidas 21 pessoas, 4 na capital, VitĂłria (245 mil eleitores) e 17 em Venda Nova do Imigrante (14 mil eleitores).
O responsĂĄvel tĂ©cnico pela pesquisa, Ricardo Guedes, argumentou que o Sensus usou a tĂ©cnica Probabilidade Proporcional ao Tamanho, conhecida por PPT, "mas pelo que se viu o tamanho deve ter sido geogrĂĄfico ao invĂ©s de população eleitoral", contradita a fonte. Para esse tĂ©cnico, privilegiar pequenos municĂpios "estĂĄ, sim, favorecendo o candidato oficial, pois neles residem parcelas expressivas de eleitores aquinhoados com a bolsa famĂlia".
Garante que esse tipo de manobra tĂ©cnica "com toda certeza revela um quadro totalmente descolado da realidade. Pesquisa Ă© uma amostra da realidade, e a realidade do processo eleitoral Ă© outra. As capitais sempre registram mais votos que os pequenos municĂpios brasileiros, porĂ©m o Instituto Sensus pode fazer de outra forma" para ser fiel Ă realidade.
Além dos 90 dias
Outro texto que circula pela internet reforça o questionamento desse tipo de pesquisa. Comprova, com dados, que o PT, detendo 10% das prefeituras no Brasil, "teve a sorte" de, na pesquisa CNT/Sensus, serem escolhidas 17,8% de cidades dirigidas pelo partido. A conclusão dessa seleção amostral é que o PT teve uma "sorte" de 78% a mais do que o normal. Jå o PSDB e o DEM, que comandam 23% das cidades brasileiras, tiveram apenas 14% das cidades por eles dirigidas selecionadas para compor a amostra da pesquisa CNT/Sensus. "Tiveram um azar de quase 40% a mais do que o normal", conclui o texto, mostrando que, entre todos os partidos, "ninguém teve mais sorte do que o PT. E ninguém teve mais azar do que o DEM e o PSDB".
Mera casualidade? Os dados, apurados em extensĂŁo, indicam que nĂŁo. JĂĄ Ă© mais do que chegada a hora de ampliar o prazo de controle efetivo das pesquisas eleitorais dos atuais 90 dias para qualquer perĂodo em que elas forem realizadas. A checagem teria que ser feita nĂŁo apenas pelo TRE, mas tambĂ©m por entidades da sociedade civil especializadas. A democracia brasileira se tornaria mais do que um instrumento na mĂŁo dos "mais iguais".
Fonte: Com informaçÔes do Observatório da Imprensa
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